quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

B. Brecht - 1929



"Tal como fazemos a nossa cama nela nos deitamos
Ninguém nos virá aconchegar.

Nada podeis fazer por um cadáver
Nunca se pode fazer nada por ninguém."

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Debate pela liberdade...

Quem é o juiz? O juiz é Deus!
E porque é Ele Deus? Ele decide quem ganha ou perde; não o meu oponente!
Quem é o teu oponente? Não existe!
Porque não existe? É apenas uma voz discordante da minha verdade!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Subjetividade Humana...


"Mas é igualmente curteza de vistas eliminar fantasias que parecem não se adaptar ao universo físico. As fantasias e, na realidade, o todo da subjetividade humana não são menos parte do mundo do que as pulgas, as pedras e os quarks, e não há qualquer razão para sacrificarmos o primeiro aspeto a fim de protegermos o segundo."

Feyerabend, P. p. 321

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Amigo Improvável...


Um encontro pouco comum entre o amor e a ternura,
apenas isso.
Ela tinha nome de flor (margueritte)
e vivia entre as palavras.
Adjetivos de grandes caules,
verbos que cresciam como ervas,
e alguns deles vingavam.
Passou suavemente por mim e
entrou no meu coração.
As histórias de amor podem ser mais do que amor.
Por vezes nem sequer há «amo-te», mas existe amor.
Um encontro pouco comum.
Conhecia-a por acaso num banco do parque.
Não ocupava muito espaço
era um pouco maior do que um pombo cheio de penas.
Estava rodeada de nomes comuns como o meu.
Deu-me um livro e depois outro
e as páginas iluminaram-se à minha frente.
Não morras agora, tens muito tempo.
Espera.
Ainda não chegou a hora minha flor.
Dá-me um pouco mais de ti.
Dá-me um pouco mais da tua vida.
Espera.
As histórias de amor podem ser mais do que amor.
Por vezes nem sequer há «amo-te»,
mas existe amor.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Paul Feyerabend (Contra o Método)



"Numa análise mais fina, descobrimos até que a ciência não conhece «fatos nus», mas que os fatos que entram no nosso conhecimento são já vistos de certa maneira e, por isso, essencialmente ideacionais. Sendo assim, a história da ciência seria tão complexa e caótica, cheia de erros, e divertida com as ideias que contém, e estas ideias seriam por sua vez tão complexas, caóticas, cheias de erros e divertidas como os espiritos dos que as inventaram. Em contrapartida, uma pequena lavagem ao cérebro contribuiria em muito para tornar a história da ciência mais enfadonha, mais simples, mais uniforme, mais «objetiva» e mais facilmente abordável em termos de regras estritas e inalteráveis."

P. 25

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Paisagem



"Cada paisagem da minha vida, por ser não um rebanho errante de sensações ou um sistema de juízos efémeros, mas segmento de carne durável do mundo, está prenhe, como visível, de muitas outras visões além da minha, e o visível que vejo, de que falo, mesmo que não seja o monte Himeto ou os plátanos de Delfos, é o mesmo, numericamente, que viam ou de que falavam Platão e Aristóteles."

M. Merleau-Ponty, p. 121

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Perceções



Perceções novas substituem as perceções antigas, e mesmo emoções novas substituem as de outrora, mas essa renovação só diz respeito ao conteúdo da nossa experiência e não à sua estrutura; o tempo impessoal continua a se escoar, mas o tempo pessoal está preso.

M. Merleau-Ponty, p. 123

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Ausência...



Só compreendemos a ausência ou a morte de um amigo no momento em que esperamos dele uma resposta e sentimos que ela não existirá mais; por isso, primeiramente evitamos interrogar para não ter de perceber esse silêncio; nós nos desviamos das regiões da nossa vida em que poderíamos encontrar esse nada, mas isso significa que nós as adivinhamos.

Maurice Merleau-Ponty, p. 120 

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Grande...


"Podemos encarar a perspectiva de possibilidades, de probabilidades e de impossibilidades, mas a experiência diz-nos que o impossível pode acontecer, que o provável pode nunca acontecer e, acima de tudo, que podem aparecer novas realidades, completamente impensadas... Nada de grande, nada de fundamental foi alguma vez previsto, nem as suas origens puderam ser retrospectivamente compreendidas."

Karl Jaspers                      

terça-feira, 7 de junho de 2011

Uma viagem à Índia



"Diga-se que pensar não é assim tão fácil.
Certos homens, estando sentados,
esforçam-se tanto por esboçar uma ideia
que acabam banhados em suor.
E entretanto cá fora: nada,
nem a carcaça do mais efémero indício
de inteligência. Cada ideia parece estar nesses cérebros
como num labirinto que só raramente
consegue sair. Bloom pensa naquele pai e nos três filhos.
Que família coerente, murmura."

"Ser leão entre ovelhas é fraqueza, já dizia
um poeta excelentíssimo.
Assim, pois, Bloom, optava, frente aos quatro imbecis -
uma família inteira e sorridente -,
por esconder a inteligência como se esconde um objecto.
Ouvindo, nada respondia,
sorria apenas; como se a simpatia - igual a
uma borboleta estúpida - houvesse pousado nos seus lábios
fazendo destes parapeito inútil que nem beija
nem diz."

Gonçalo Tavares, canto 1, 67/68, p. 53

segunda-feira, 16 de maio de 2011

ELOGIO AO AMOR - Miguel Esteves Cardoso in Expresso



Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
 

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.


Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há! Estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.
Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "Tá! Tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, banalidades, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
 

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.


O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A vidinha é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.


Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.
 Não se pode ceder. Não se pode resistir.

A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não.

Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.


Nota: Já tem algum tempo, é conhecido, mas muito interessante!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Prudência...


"A prudência que proíbe ir demasiado longe numa sentença quase sempre é agente do controlo social e, portanto, de estupidificação."

TH. W. Adorno, p. 83

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Mesa e cama

"Logo que os seres humanos, mesmo os de bom feitio, amistosos e cultivados, decidem separar-se, costuma levantar-se uma poeirada que cobre e descolora tudo o que com ela entra em contacto. É como se a esfera da intimidade, a letárgica confiança da vida em comum, se transformasse numa substância venenosa com a ruptura das relações em que assentava. A intimidade entre os humanos é indulgência, tolerância, reduto das singularidades. Se ela se transtorna, o momento de debilidade aparece por si só, e com a separação é inevitável uma viragem para o exterior. Esta apropria-se de todo o inventário da confidencialidade. Coisas que uma vez foram símbolos de amorosa solicitude, imagens de conciliação, tornam-se, de súbito, independentes como valores e mostram o seu lado mau, frio e deletério. Professores que, após a separação, irrompem na habitação da sua mulher para retirar objectos do escritório, damas bem dotadas que denunciam os seus maridos por fraude nos impostos. Se o casamento oferece uma das últimas possibilidades de formar células humanas no seio do geral inumano, este vinga-se com a sua desintegração, apoderando-se da aparente excepção, submete-a aos alienados ordenamentos do direito e da propriedade e mofa dos que se julgavam a salvo. O mais protegido transforma-se em cruel requisito do abandono. Quanto mais «generosa» foi originariamente a relação mútua entre os cônjuges, quanto menos tinham pensado na propriedade e na obrigação, tanto mais odiosa será a degradação; pois é no âmbito do juridicamente indefinido que prospera a disputa, a difamação, o incessante conflito dos interesses. Toda a obscuridade em cuja base assenta a instituição do casamento, a bárbara disposição que o marido tem sobre a propriedade e o trabalho da mulher, a não menos bárbara opressão sexual que, tendencialmente, força o homem a assumir para toda a sua vida a responsabilidade de dormir com aquela que uma vez lhe proporcionou prazer - tudo isso é o que se liberta dos sótãos e das caves, quando a casa é demolida. Os que um dia experimentaram a bondade do geral na exclusiva pertença recíproca são agora obrigados pela sociedade a considerar-se patifes e a aprender que eles se assemelham ao geral da ilimitada vilania externa. Na separação, o geral revela-se como a mácula do particular, porque o particular, o matrimónio, não consegue realizar o verdadeiro em tal sociedade."

TH. W. Adorno, pp. 25-26

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Amor maturo - Erich Fromm


"Ao contrário da união simbiótica, o amor maturo é uma união sob a condição de preservar a integridade e a individualidade de cada um. O amor é um poder activo no Homem; um poder que atravessa as fronteiras que separam o indivíduo do seu semelhante, um poder que o une a outrem. O amor faz com que o ser humano ultrapasse a sua sensação de isolamento e de separação e, no entanto, permite-lhe ser ele mesmo, manter a sua integridade. No amor dá-se um paradoxo: os dois seres transformam-se num só e, no entanto, continuam a ser dois."


Erich Fromm, p. 28

"O amor é um cuidado activo pela vida e pelo crescimento daquilo que amamos."

Erich Fromm, p. 33

 

quinta-feira, 31 de março de 2011

Fábula de "La Fontaine"


"O carvalho diz ao junco que a natureza não o abençoou, basta um vento, um pardal que poisa, a corrente do rio e ele tem de se dobrar, enquanto ele, carvalho, ergue-se forte até aos céus. O junco não se mostra infeliz. Vem o vento norte e ao soprar com toda a força dobra muito o junco, sem o partir, mas arranca o carvalho da terra."

In Bergeret, p. 137

quarta-feira, 23 de março de 2011

Erich Fromm - Art of Loving


If two people who have been strangers, as all of us are, suddenly let the Wall between them break down, and feel close, feel one, this moment of oneness is one of the most exhilarating, most exciting experiences in life. It is all the more wonderful and miraculous for persons who have been shut off, isolated, without love. This miracle of sudden intimacy is often facilitated if it is combined with, or initiated by, sexual attraction and consummation. However this type of love is by its very nature not lasting.
The two persons become well acquainted, their intimacy loses more and more its miraculous character, until their antagonism, their disappointment, their mutual boredom kill whatever is left of the initial excitement. Yet, in the beginning they do not know all this: in fact, they take the intensity of their love, until it may only prove the degree of their preceding loneliness.
Infantile love follows the principle: “I love because I am loved.” Mature love follows the principle: “I am loved because I love”. Immature love says: “I love because I need you”. Mature love says: “I need you because I love you.”

quarta-feira, 9 de março de 2011

Emily Dickinson

Bom dia, Meia-Noite!
Regresso a casa,
O Dia cansou-se de mim -
O que lhe posso fazer?

O brilho do sol
É um sítio
Doce
Em que gosto
De estar.

Mas hoje a Manhã
Não me quer.
Assim -
Boa noite, ó Dia!

terça-feira, 1 de março de 2011

«Normalidade»


"A «normalidade» é sobretudo não se inquietar, antes de mais, com o «como fazem os outros?» mas procurar simplesmente, ao longo de toda a existência, sem demasiada angústia nem demasiada vergonha, uma forma de lidar melhor com o conflito dos outros, bem como com os conflitos pessoais, sem todavia alienar o seu potencial criador nem as suas necessidades íntimas."

Bergeret, p. 36

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Linguagem...


“Tudo o que posso fazer com a minha linguagem, mas não com o meu corpo. O que a minha linguagem esconde, di-lo o meu corpo. Posso à minha vontade modelar a mensagem, mas não a minha voz. Na minha voz, diga o que disser, reconhecerá o outro que «tenho qualquer coisa». Sou mentiroso (por preterição), não comediante. O meu corpo é uma criança teimosa, a minha linguagem é um adulto muito civilizado…de modo que uma longa série de contenções verbais (as minhas delicadezas) poderão de repente explodir em qualquer revulsão generalizada: uma crise de choro (por exemplo)”.
Barthes (2006, p. 124).

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O sofrimento é subjectivo, logo respeitável...


“É por isso que o homem de coração nobre impõe a si mesmo o dever de nunca humilhar ninguém; impõem-se uma justa vergonha em presença de tudo o que sofre.”
                                        Nietzsche em “Assim falava Zaratustra”, p. 108.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Melancolia


“I gladly admit that being melancholy is in a sense not a bad sign, for as a rule only the most gifted natures are afflicted by it. (...) People whose souls have no acquaintance with melancholy are those whose souls have no presentiment of metamorphosis. These I do not concern myself with here, for I am writing only of and to you, and to you I think this explanation will be satisfactory, for you scarcely assume, as many physicians do, that melancholy is a bodily ailment, though for all that, remarkably enough, physicians cannot cure it; only the spirit can cure it, for it lies in the spirit, and when the spirit finds itself all small sorrows vanish, those reasons which in the view of some produce melancholy – that one cannot find oneself in the world, that one comes to the world both too late and too early, that one cannot find one’s place in life; but for the person who owns himself eternally, it is neither too early nor too late that he comes to the world, and the person who possesses himself in his eternal validity will surely find his significance in this life”.

Kierkegaard (1992, p. 498)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Os olhos límpidos...


"Somos levados a ver com os olhos límpidos uma paisagem quando temos reservas de limpidez. A frescura de uma paisagem é uma maneira de olhá-la. É preciso, não há dúvida, que a paisagem ponha aí algo de si, que tenha um pouco de verdura e um pouco de água; mas é à imaginação material que cabe a mais longa tarefa. Essa acção directa da imaginação se evidencia no caso da imaginação literária: o frescor de um estilo é a mais difícil das qualidades; depende do escritor e, não do assunto."

M. Merleau-Ponty, p. 152

Nota: Exercitem o eu, experienciem com limpidez e espontaneidade, interiormente, sejam bons por natureza, ela logo se altera e com ela os outros!!!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A Água e os Sonhos - Imaginação e Matéria


"(...) a terra natal é menos uma extensão que uma matéria; é um granito ou uma terra, um vento ou uma seca, uma água ou uma luz. É nela que materializamos os nossos devaneios; é por ela que nosso sonho adquire sua exacta substância; é a ela que pedimos a nossa cor fundamental. Sonhando perto do rio, consagrei a minha imaginação à água, à água verde e clara, à água que enverdece os prados. Não posso sentar perto de um riacho sem cair num devaneio profundo, sem rever a minha ventura... Não é preciso que seja o riacho da nossa casa, a água da nossa casa. A água anónima sabe todos os segredos. A mesma lembrança sai de todas as fontes.

Bachelard, G. p. 9

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Alucinação!


"A ausência do objecto não provoca a alucinação, mas facilita a emergência de uma potencialidade humana: a capacidade de experimentar prazer na base de uma recordação e não apenas com um objecto real."

Edmond Gilliéron, p. 64

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Eu já há muito aderi...


“Os acontecimentos mais ricos ocorrem em nós muito antes que a alma se aperceba deles. E, quando começamos a abrir os olhos para o visível, há muito que já estávamos aderentes ao invisível.”
D’Annunzio (citado em Bachelard, 2002, p. 18).

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O Tecido do Outono...


"(...) nas relações com os homens, nunca me dei inteiramente. Tenho a impressão que não estava a amar: estava a jogar o jogo do corpo e, por melhor que corressem as coisas estava sempre com um adversário naquela partida."

Alçada Baptista, p. 53

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O afecto desperta o que queremos enganar...


“No mundo das neuroses a realidade psíquica é que é decisiva, por vezes estas realidades são materializadas obviamente, daí derivam. De onde surgem, então, as necessidades de fantasia e o material para elas? Surgem, claramente das pulsões que remetem automaticamente para o princípio do prazer. O ego humano é ensinado pela pressão destas necessidades (pulsões) a apreciar a realidade e a obedecer a este principio, no decurso deste processo é obrigado a renegar temporariamente – repito, temporariamente, porque a dado momento algo que se liga a determinado afecto desperta-o – a grande variedade de objectos e alvos para que está dirigida a sua luta pelo prazer e, não apenas pelo prazer sexual – o prazer remete sempre para algo satisfatório para o individuo, cujo tema tem sempre um pendor de orientação subjectiva, no entanto, esta procura contínua de estados agradáveis descompensa o sistema psíquico porque as reservas para a gestão da angústia está desamparados por contínuos acessos de prazer momentâneos – «mas ao homem sempre custou renunciar ao prazer; não são capazes de fazê-lo sem uma qualquer compensação.»”

Freud (2001c, p. 142)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Sintoma... Freud


“Os sintomas – e claro que estamos aqui a tratar de sintomas psíquicos e de doenças psíquicas – são actos prejudiciais, ou pelo menos inúteis, para a vida do sujeito como um todo, de que ele muitas vezes se queixa e que lhe provocam desprazer e sofrimento. O maior prejuízo que causam reside no dispêndio mental que eles próprios envolvem e ainda no dispêndio que se torna necessário para lutar contra eles.”

Freud (2001c, p. 127)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O Tecido do Outono


Olá a todos, mais um livro que entra, definitivamente, nas minhas escolhas. É um manual de vida, uma grande narrativa que todos devem ter a coragem de ler e reflectir - depois de lerem comentem-mo! Quanto ao porquê da coragem, só depois compreenderão.


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Roland Barthes


"No luto real, é a «prova da realidade» que me mostra que o objecto amado deixou de existir. No luto de amor, o objecto não está nem morto, nem afastado. Sou eu que decido que a sua imagem deve morrer (e poderei mesmo ocultar-lhe essa morte). Enquanto esse estranho luto durar, terei de suportar duas dores contrárias: sofrer a presença do outro (continuando, apesar disso, a ferir-me) e entristecer-me com a sua morte (pelo menos do que eu amava). Assim, angustio-me (velho hábito) com um telefonema que não vem, mas digo-me ao mesmo tempo que este silêncio é, de qualquer modo, inconsequente, uma vez que decidi fazer luto de uma tal inquietação: ter de me telefonar apenas dizia respeito à imagem de amor; desaparecida essa imagem, o telefone, toque ou não, retoma a sua existência fútil… o exílio do imaginário é a via necessária para a cura.”

Roland Barthes, p. 147

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Edgar Morin


"As multidões e os ajuntamentos podem excitar a loucura colectiva, que desemboca no pânico ou nos linchamentos. A turbulência da festa, a exaltação da orgia podem redundar em violências destruidoras. Podemos perguntar-nos se, à semelhança da ambição individual desmesurada, a ambição da civilização (…) os germes de todas estas loucuras estão anichados em cada indivíduo, em cada sociedade; o que nos diferencia uns dos outros é o maior ou menor domínio, sublimação, dissimulação, transformação da nossa própria loucura.

Aliás, a racionalidade transforma-se no seu contrário quando degenera em racionalização. A abstracção, a perda do contexto, a transformação de uma teoria em doutrina blindada, a transformação da ideia em palavra mestra, tudo isso conduz à racionalização ideológica delirante. O desconhecimento dos limites da lógica e da própria razão conduz a formas frias de loucura: a loucura da sobrecoerência.

Porquê tanta loucura, porquê tanto delírio?
Em primeiro lugar, porque a ruptura das regulações no mundo psíquico (quer dizer, das proibições sociais e das inibições internas) provoca, tal como no mundo físico, alguns feedback positivos, ou seja, amplificações e acelerações de desvios, que se manifestam psiquicamente nos estados quase demenciais de furor, alucinação, raiva. Em seguida porque não existe qualquer dispositivo cerebral intrínseco que distinga a alucinação da percepção, o sonho da vigília, o imaginário do real, o subjectivo do objectivo…!

Edgar Morin, p. 115

SEAL - SILENCE

SEAL - SECRET

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

“Um amor nascente inunda o mundo de poesia, um amor que dura irriga de poesia a vida quotidiana, o termo de um amor atira-nos para a prosa. O amor, unidade incandescente da sabedoria e da loucura, faz-nos suportar o destino, faz-nos amar a vida. O amor é a grande poesia no seio do mundo prosaico (em contraste com a vida poética) moderno, e alimenta-se de uma imensa poesia imaginária (…) o estado poético… purifica a ansiedade, a preocupação, a mediocridade, a banalidade. Transfigura o real. Estado transfigurante e transfigurador da existência, é verdade que é precário, aleatório, mas é o estado de graça.”
                                                                           Morin, 2002, p. 54.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Edgar Allan Poe


"Não preciso de lembrar aos leitores que, no extenso e sinistro catálogo das misérias humanas, teria podido escolher montes de casos individuais mais carregados de sofrimentos essenciais do que qualquer destes imensos desastres colectivos. O verdadeiro sofrimento, com efeito – a desgraça suprema – é particular e não geral."

Edgar Allan Poe (2003, p. 95)