quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Roland Barthes


"No luto real, é a «prova da realidade» que me mostra que o objecto amado deixou de existir. No luto de amor, o objecto não está nem morto, nem afastado. Sou eu que decido que a sua imagem deve morrer (e poderei mesmo ocultar-lhe essa morte). Enquanto esse estranho luto durar, terei de suportar duas dores contrárias: sofrer a presença do outro (continuando, apesar disso, a ferir-me) e entristecer-me com a sua morte (pelo menos do que eu amava). Assim, angustio-me (velho hábito) com um telefonema que não vem, mas digo-me ao mesmo tempo que este silêncio é, de qualquer modo, inconsequente, uma vez que decidi fazer luto de uma tal inquietação: ter de me telefonar apenas dizia respeito à imagem de amor; desaparecida essa imagem, o telefone, toque ou não, retoma a sua existência fútil… o exílio do imaginário é a via necessária para a cura.”

Roland Barthes, p. 147

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