quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Edgar Morin


"As multidões e os ajuntamentos podem excitar a loucura colectiva, que desemboca no pânico ou nos linchamentos. A turbulência da festa, a exaltação da orgia podem redundar em violências destruidoras. Podemos perguntar-nos se, à semelhança da ambição individual desmesurada, a ambição da civilização (…) os germes de todas estas loucuras estão anichados em cada indivíduo, em cada sociedade; o que nos diferencia uns dos outros é o maior ou menor domínio, sublimação, dissimulação, transformação da nossa própria loucura.

Aliás, a racionalidade transforma-se no seu contrário quando degenera em racionalização. A abstracção, a perda do contexto, a transformação de uma teoria em doutrina blindada, a transformação da ideia em palavra mestra, tudo isso conduz à racionalização ideológica delirante. O desconhecimento dos limites da lógica e da própria razão conduz a formas frias de loucura: a loucura da sobrecoerência.

Porquê tanta loucura, porquê tanto delírio?
Em primeiro lugar, porque a ruptura das regulações no mundo psíquico (quer dizer, das proibições sociais e das inibições internas) provoca, tal como no mundo físico, alguns feedback positivos, ou seja, amplificações e acelerações de desvios, que se manifestam psiquicamente nos estados quase demenciais de furor, alucinação, raiva. Em seguida porque não existe qualquer dispositivo cerebral intrínseco que distinga a alucinação da percepção, o sonho da vigília, o imaginário do real, o subjectivo do objectivo…!

Edgar Morin, p. 115

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