quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Futebol...

"O campo de futebol não é, para o jogador em acção, um «objecto», ou seja, a palavra ideal que pode dar lugar a uma multiplicidade indefinida de vistas perspectivas e permanecer equivalente sob essas transformações aparentes. É percorrido por linhas de força (...), articulado em sectores que impõem certo modo de acção, a desencadeiam e exigem como à revelia do jogador. O campo não lhe é dado, mas está presente para ele como o termo imanente das suas intenções práticas; ele e o jogador são um só corpo e o jogador sente, por exemplo, a direcção do golo tão imediatamente quanto a vertical e a horizontal do seu próprio corpo. Não bastaria dizer que a consciência habita esse meio. Ela nada mais é, nesse momento, que a dialéctica do meio em acção. Cada manobra realizada pelo jogador modifica o aspecto do campo e nele traça novas linhas de força nas quais a acção, por sua vez, se desenrola e se realiza alterando de novo o campo fenoménico."
M. Merleau-Ponty, p. 263

Por tudo isto é que cansa e só o FCPORTO joga bem!

Postado no http://jogabempoenochao.blogspot.com do meu bom amigo João, por mim:


"Joga bem põe no chão"… pelo ar é mais directo, porquê pelo chão? É mais trabalhado, a certeza acresce, a segurança ascende, ou será que para voar está o medo de aterrar? A dominação enquanto factor securizante depende das nossas competências psicomotoras – estas deixam-nos apenas o terreno, a matéria, como base das nossas intenções e das nossas certezas, o etéreo, o ar que não se agarra foge-nos das mãos (neste caso dos pés).

No nosso manancial corpóreo o ar é apenas um sonho, sonhos que nos fazem temer (sonhamos que estamos a cair no vazio…) e vibrar (sonhamos que voamos, livres…).


Por outro lado, a técnica ou a táctica aérea não se pode desenhar, como esquematizar no vazio, como planear? As linhas fogem-nos, os sectores esfumam-se, perdemos o controlo. O controlo é o factor decisivo – quando não se controla dizemos “isto é futebol, o futebol é assim…” claro que é, é um controlo descontrolado, é uma ordem no caos, daí todos os jogos serem diferentes, ainda que parecidos, as combinações e movimentações são inumeráveis – lembro aqui Proudhon, sob o comando de Bonaparte, que dizia aquando do planeamento das batalhas, das frentes de combate, “Caro Bonaparte, a fecundidade do inesperado é grandemente superior à prudência do estadista”, traduzindo, a melhor táctica, os melhores processos também, podem levar ao êxito, à excelência, à vitória, mas também não.

Quando na afirmação veemente “joga bem põe no chão” não encontramos saída, o ar é a solução, “chuta para a frente, mete lá, põe em cima”, rápido como se não houvesse amanhã, porque o êxito deriva daqui e já não na ordem inicial. Na desordem reina muitas das vezes a solução, tal é a importância da paixão que segundo dizem, cega a razão, mas é capaz de resultados extraordinários, ainda que ambivalentes.

Eu diria, também, “joga bem põe no chão”, mas não é definitivamente a solução, precisamos de ilusão!"

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