sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Para os pais... vou acrescentando...


"A criança é o que nós acreditamos que ela é, reflexo do que queremos que ela seja. Estamos todos indissoluvelmente ligados pelo facto de que outrem é para connosco o que somos para com ele.


 M. Merleau-Ponty, p. 85

"(...) A nossa atitude parece-nos justificada e até imposta pela «natureza», pois esta traz ao mundo a criança em estado de desnudamento e impotência. Mas aqui convém fazer a distinção de Descartes entre «liberdade» e «poder», uma vez que a liberdade é a mesma para todos, mas o poder (os meios de realizá-la) não o é. Isso se aplica à criança: completamente desprovida de «poder» ao nascer, a liberdade não tem sentido para ela, pois não lhe é possível nenhuma autonomia. É esse estado totalmente passageiro que nos parece recomendar uma atitude possessiva. Na realidade, esse desnudamento provisório da criança humana está ligado a seu poder ulterior: é porque será homem que tem tão poucos instintos e está muito mais desaparelhado que um filhote de animal. Ao prolongar além da primeira infância a autoridade assumida, o adulto não está obedecendo à «natureza», está criando uma dependência, fazendo um escravo e inovando."

M. Merleau-Ponty, p.86

"(...) toda a relação humana é irradiante, «extravasa-se» sobre o «entourage»."

M. Merleau-Ponty, p. 91

"Hegel, falando da vinda do filho e do casal, diz que ele é «o ser para si do amor dos dois que cai fora deles». O filho é ao mesmo tempo a expressão do ser a dois de seus pais, e sua negação: é a terceira personagem que só poderá transformar essa relação."

M. Merleau-Ponty, p. 97

"(...) considerando os filhos como prolongamento seu e querendo evitar que passem pelas experiências pelas quais ela passou, a mãe chega, por condutas para eles incompreensíveis, a um resultado muitas vezes exactamente contrário ao desejado por ela; ou - a mãe se transforma em escrava dos filhos, aparentemente abdicando de sua vida pessoal em favor deles; na realidade, essa atitude muitas vezes é um meio de dominá-los (ela faz do sofrimento uma arma e com a resignação tenta provocar atitude afectuosa." 

M. Merleau-Ponty, p. 98/99

"Em geral, não há conduta realmente ajustada que seja possível diante da criança; porque, sendo ainda um bichinho em muitos aspectos, ela dispõe da palavra, instrumento da razão; diante do adulto que tenta repreendê-la, ela age como um bichinho; mas, quando o adulto quer amestrá-la como um bichinho, a criança replica com a palavra."


S. de Beavoir in M. Merleau-Ponty, p. 99 

"(...) Por isso, é ilusório recomendar a uma jovem o casamento e a maternidade para remediar as suas dificuldades: a maternidade, após talvez um breve período de calma, só servirá para acentuar a sua neurose. A maternidade não resolve os problemas pessoais; muitas vezes os agrava: as mães equilibradas eram equilibradas entes de serem mães."

M. Merleau-Ponty, p. 99/100


"A importância extrema do factor psicológico é constituída pela presença da mãe, e é entre três meses e um ano que a ausência desta acarreta consequências graves para o desenvolvimento da criança."

M. Merleau-Ponty, p. 370

"A criança é um organismo situado num meio humano, e não apenas um organismo físico-químico; é capaz de ter condutas não explicáveis apenas pelo funcionamento orgânico; pode antecipar-se: relação prematura como o meio (está adiantada em relação ao estado efectivo do organismo)."

M. Merleau-Ponty, p. 370

" Não é evitando as tensões das situações afectivas que a criança se forma. O apego da criança ao adulto é suscitado pelo próprio adulto: é uma situação recíproca; se é amada, a criança ama. A criança sente na própria vida os contragolpes da afectividade alheia. A criação de uma mãe fantasmagórica não dá a satisfação que daria uma mãe de verdade."

M. Merleau-Ponty, p. 371

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